Idealização: Quando o Desejo Ama uma Imagem, e Não a Pessoa

Você já se pegou encantada por alguém... mas, com o tempo, percebeu que talvez estivesse mais ligada à ideia dessa pessoa do que a quem ela realmente era? Esse é um movimento mais comum do que parece. Na psicanálise, chamamos isso de idealização — um mecanismo profundo do desejo, onde projetamos no outro aquilo que sentimos faltar em nós mesmos.

Psicanalista Juliana da Cruz

5/19/20252 min read

a woman looking through a magnifying glass
a woman looking through a magnifying glass

Quando o outro vira espelho de um sonho antigo

Idealizar alguém é, muitas vezes, uma forma de sustentar uma fantasia inconsciente: a de que finalmente encontraremos aquilo que nos completará. Nesse processo, deixamos de ver o outro como ele é — com suas contradições, limites e humanidade — e passamos a enxergá-lo como uma imagem ideal, quase perfeita, moldada por nossas próprias carências emocionais.

Amamos a presença, sim. Mas, mais que isso, amamos a ideia da presença. Um tipo de amor que nasce do desejo, mas que se alimenta mais da ausência do que da realidade.

Por que fazemos isso?

A idealização é um mecanismo psíquico antigo, que costuma surgir ainda na infância, quando buscamos figuras que nos tragam segurança, nutrição emocional e pertencimento. Quando essas experiências são vividas de forma faltante, dolorosa ou confusa, podemos crescer tentando reparar essas lacunas através dos vínculos que criamos na vida adulta.

O desejo, então, se torna um roteirista invisível: ele escreve narrativas, personagens e finais felizes em relações que, na prática, nem sempre oferecem o que esperamos. E isso não é um defeito — é uma forma do nosso inconsciente nos proteger da dor e, ao mesmo tempo, buscar reparação.

O perigo de amar a projeção

O problema é que a idealização pode aprisionar. Quando estamos apaixonadas pela imagem que criamos do outro, deixamos de estar em relação com a pessoa real. Ignoramos sinais, aceitamos silêncios, justificamos ausências. Nos afastamos de nós mesmas em nome de um sonho.

A frustração, quando chega, costuma ser dolorosa. Não apenas pelo fim da relação — mas pela quebra de uma ilusão construída com tanto afeto e esperança.

A psicanálise como caminho de escuta e reconexão

Na psicanálise, a proposta não é julgar esse processo, mas escutá-lo. Entender de onde vem o desejo, por que ele se estrutura assim, e como ele pode se transformar quando nos abrimos para conhecer quem realmente somos — sem precisar nos projetar no outro.

Essa escuta, feita num ambiente seguro e sem julgamentos, permite que possamos reconhecer os padrões, resgatar a nossa potência emocional e construir vínculos mais reais, saudáveis e possíveis.

🔹 Se você sente que está presa em ciclos de idealização... ou se deseja compreender melhor os movimentos do seu desejo, a psicanálise pode ser um espaço de reconexão com a sua verdade emocional.

Juliana da Cruz Araujo
Psicanalista Contemporânea | Atendimento Online e Presencial no Rio de Janeiro